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Graduado em Filosofia, no ano de 2009. Portanto, um eterno estudante de filosofia, ingressei no curso de Licenciatura em Filosofia, em 2005, na Universidade do Estado do Rio Grande do do Norte, Mossoró. Dedicando estudo a área da filosofia Política, área esta onde defendi monografia tendo como tema "A educação como um instrumento de desalienação". Também sou poeta. E antes de tudo um admirador das artes, entre elas a retórica. Em 2009 ingressei na especialização em ética e política.

sábado, 11 de setembro de 2010

Mas Lampião, minha gente, nessa terra não entrou

Vinte e sete era o ano
Do século vinte então
Muitos dizem ser a data
Que ocorreu a invasão
O dia de santo Antonio
Quando chegou Lampião

Dizem que o temido
Cangaceiro perigoso
Deixou-se levar então
Por bandido ardiloso
O famoso Massilon
Que provocou o alvoroço

Lampião não conhecia
A cidade a invadir
E convencido foi
Para Mossoró seguir
Pois o Massilon no papo
Conseguiu persuadir

Ele falou que a cidade
Era rica o bastante
Tinha bancos e comércios
De um valor empolgante
Mas seu espaço geográfico
Sem tamanho alarmante

Inocente Lampião
Na sua conversa caiu
E sem saber o que o esperava
Pra Mossoró já partiu
Saindo de Pernambuco
Chegar aqui conseguiu

Lampião não interpretou
O que Massilon dizia
Viciado em roubar
Só os lucros ele queria
Não pensou que ia entrar
Na terra de Santa Luzia

Lampião quando entendeu
O que estava acontecendo
Os seus olhos no binóculo
Trinta minutos só vendo
Mossoró não era a mesma
Que Massilon foi descrevendo

Percebeu a enrascada
Que havia se metido
E bufando enfurecido
Por causa do ocorrido
Deu ordens que seguissem
O plano já discutido

Neste momento de raiva
O grande rei do sertão
Mandou Massilon entre outros
Pela Alberto Maranhão
Na tresloucada aventura
Nunca vista até então

Lampião enfurecido
Pois Massilon o enganou
Não entrou com o seu bando
Tudo agora planejou
E alem do limite urbano
Do cemitério fitou

Lampião acompanhou
Lá do São Sebastião
A cidade enfrentar
Bandidos com munição
Com força e valentia
Com sangue, com coração

Os cangaceiros tudinho
Cada um ia caindo
Lampião de camarote
Ao massacre assistindo
Vingou-se de Massilon
Viu seu bando se partindo

Mormaço e Bronzeado
Em Mossoró faleceu
Jararaca ao mesmo modo
Seu destino conheceu
Na violência desmedida
A sua morte ocorreu

Lampião do cemitério
Isso tudo enxergou
E de porte de uma mauser
Um disparo ele mandou
O chefe da ferrovia
Era o alvo que errou

Lampião era malvado
Mais burro num era não
Vendo o que já sucedia
Não buscou ocasião
Com os poucos que sobrava
Se mandou pelo sertão

Os caminhos se fechando
Sua vez ia chegá
Juntou sua guarda pessoal
E partiu sem demorá
Com o rabo entre as pernas
Foi parar no Ceará

Essa estória eu to contando
Que um professor me falou
O povo de Mossoró
Cangaceiros enfrentou
Mas Lampião, minha gente
Nessa terra não entrou

Fabio Alves Valentim, Professor de Filosofia, formado pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e especializando em
Ética e Filosofia Política.

sábado, 15 de maio de 2010

Mossoró West Shopping. Cobrança de estacionamento é venda casada?

Fiquei decepcionado está semana quando precisei resolver algumas coisas no Mossoró West Shopping e quando passei no guichê para validar meu ticket fui informado que a taxa de estacionamento continuava sendo cobrada e, agora, legalizada por uma liminar.
Sendo eu um cumpridor da lei, fiz questão de pagar, e perdi alguns minutos do meu precioso tempo lendo a liminar que estava afixada na parede, à vista de todos. O interessante é que a lei funcionou por mais de uma semana e ninguém ousou afixar na parede. Será que isso é mesmo uma forma de tratar os clientes? Será mesmo que somos respeitados?
Não conheço de lei tão afundo e não ouso questionar sobre a constitucionalidade ou não da lei municipal lei 2.615/2010, que fora publicada no último dia 30 de abril e agora é derrubada por efeito de liminar, todavia, continuo percebendo como ilegal a taxa de cobrança de estacionamento.
O código de defesa do consumidor trata como ilegal a venda casada. E nesse caso, específico, do Mossoró West Shopping é notório que este abuso está sendo cometido. A Venda Casada é expressamente proibida pelo Código de Defesa do Consumidor - CDC (art. 39, I), constituindo inclusive crime contra as relações de consumo (art. 5º, II, da Lei n.º 8.137/90).
O consumidor não pode ser compelido a adquirir aquilo que não quer, e deve exigir a venda do produto ou a prestação do serviço de acordo com aquilo que deseja.
Caso o fornecedor se recuse a vender o item desejado sem o outro indicado, o consumidor deve recorrer à Justiça.
• A Lei 8.137 / 90, artigo 5º, II, III tipificou essa prática como crime, com penas de detenção aos infratores que variam de 2 a 5 anos ou multa.
• E a Lei 8.884 / 94, artigo 21º, XXIII, define a venda casada como infração de ordem econômica. A prática de venda casada configura-se sempre que alguém condicionar, subordinar ou sujeitar a venda de um bem ou utilização de um serviço à aquisição de outro bem ou ao uso de determinado serviço.
• Pelo Código de Defesa do Consumidor, a Lei 8078 / 90, artigo 39º, “é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”.
Vamos considerar o caso do Shopping. Se eu exercendo meu direito de ir e vir, desejar ir à Livraria Siciliano ou mesmo no Restaurante Dona Têca, eu poderei me dirigir a outro endereço em Mossoró que não o Mossoró West Shopping? Certamente não. Vejam bem. Se eu só posso freqüentar esses lugares que gosto e lá consumir o que meu dinheiro permitir se tiver que pagar pelo estacionamento do já citado shopping eu não estou sendo lesado em meu direito de consumidor? Para eu ter acesso a um bem de consumo que anseio eu terei que pagar por um serviço que não desejo e que não reflete nenhum ganho para mim, isso não é uma venda casada?
Isso não seria uma venda casada se eu pudesse optar por estacionar fora do shopping e entrar a pé. Porém, sabemos que, o estacionamento nas proximidades do shopping é proibido, tem uma placa que proibi. Assim não tenho o direito de escolha. Ou pago estacionamento, ou não freqüento Dona Têca, Siciliano. Seria legal cobrar estacionamento se o cidadão tivesse a opção de mesmo com insegurança, colocar o carro na rua sem estar infringindo nenhuma lei de transito. Quando não à possibilidade de outra forma de estacionamento a cobrança se torna ilegal e abusiva e, fere o direito do consumidor.
A prática de venda casada configura-se sempre que alguém condicionar, subordinar ou sujeitar a venda de um bem ou utilização de um serviço à aquisição de outro bem ou ao uso de determinado serviço. Será que não é isto que está ocorrendo quando para que eu adquira um livro na Siciliano ou jante no Restaurante Dona Têca, ou qualquer outra loja que eu queira freqüentar tenha que pagar por estacionamento. Este valor não deveria ser cobrado na taxa de condomínio que os lojistas já pagam? Alguém pode me dizer os benefícios que ganho por utilizar o belo estacionamento do Mossoró West Shopping? O carro estará protegido da chuva e do sol? Eu terei como encontrar ele facilmente no final das compras, pois os lugares são sinalizados com placa de indicação? Existem alguma segurança para que terceiros não possa danificar o carro? Quais as garantias de conforto que o shopping me dará? Alguém me responda, por favor!
Fabio Alves Valentim, professor de Filosofia e especialista em Ética e Filosofia Política.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A regulamentação de profissões ou o velho jeitinho brasileiro?

O velho jeitinho brasileiro está com tudo e não está prosa. Estamos nos referindo ao Senado Federal que esta semana aprovou projeto de lei regulamentando as profissões de mototaxista e motoboy no Brasil. Há vários anos essas profissões já existiam de fato e agora; de direito.
Algum leitor estranhará nosso posicionamento frente a uma medida que, certamente, permitirá a milhares de pessoas a manutenção das condições de sua sobrevivência. E com certeza acelera o desenvolvimento do mercado de vendas de motocicletas, que inegavelmente é um dos que mais cresce no nordeste.
Não somos contra as pessoas que há anos estão conseguindo o seu ganha pão sobre duas rodas. O que somos, terminantemente, contra é sobre o poder público que utiliza de suas atribuições legais para transferir ao próprio cidadão a responsabilidade de encontrar a cada dia novas formas de ganhar seu alimento diário.
Essa semana foram os mototáxis e motoboys. O mês passado tinha sido a vez dos cabeleireiros, manicures, entre outros, profissionais da estética, que conseguiram sob força de lei finalmente o reconhecimento de suas profissões.
Vemos como pertinente o ocorrido. É mesmo uma atitude louvável dos nossos senadores e com tamanho esforço resgatam da clandestinidade esses nossos irmãos que há muito tempo penavam, entre uma blitz e outra, no caso dos motoboys e mototaxistas. Entre uma e outra fiscalização, no caso dos profissionais que tratam da estética.
Ademais não concordamos o fato desses profissionais que há tanto tempo já estavam a batalhar pela sua sobrevivência, venham agora a serem transformados em números, e estatisticamente sirvam somente para cálculos e/ou registros de índices de trabalhadores com emprego formal. Se levarmos por este lado, a benevolência de nossa classe política, ao cair das mascaras revelar-se-á, em uma artimanha maquiavélica. Uma forma mesquinha de garimpar votos para o pleito que se aproxima.
Sim amigos. 2010 já vêm chegando. E esperamos que o povo não interprete essa esmola, como fruto de bondade. O que ainda não dizemos aqui, é que a regulamentação da profissão mototáxi, encobre sob este manto do reconhecimento de uma profissão, o descaso que os governantes têm com o transporte coletivo de qualidade.
Mossoró já contava com uma lei municipal que regulamentava a profissão de mototáxi. E vemos que isso não foi o bastante para nos dar um serviço de qualidade. Nós poderemos perceber isso pelo numero de mototaxistas irregulares em nossa cidade, a fiscalização é quase inexistente. E os alternativos, quando irão regulamentar?
Parece que os que governam nossa nação não estão muito interessados em um transporte coletivo de qualidade, ainda não atentaram para o fato que um transporte público de qualidade, implicaria numa redução nos níveis de poluição do ar, já que muitos se sentiriam mais confortáveis em deixar seu carro em casa e ir para o trabalho de ônibus.
Isso não seria uma garantia, mas a nosso ver é nas grandes cidades do mundo que se valoriza o transporte público. Mas ao contrário, o que ocorre em nosso país é a falta de um transporte coletivo de qualidade, o que nos tem feito a cada dia buscar outras novas alternativas de locomoção. Estamos nos assenhoreando de uma prerrogativa exclusiva do Estado. A obrigação pelo transporte coletivo público é cada um por si.
Além do mais, ao reconhecer a profissão de mototáxi, nossos políticos estão se eximindo da obrigação de investir fortemente no transporte coletivo. Nossos ônibus estão cada dia mais sucateados. E como falta a fiscalização, os ônibus que não tem mais condições de circular nas capitais, muitas vezes ganham uma nova pintura e chegam ao interior como sendo novos.
É a partir desse desrespeito que a classe política tem com a sociedade de uma maneira geral, e principalmente, com a classe assalariada, e, portanto, para aqueles que utilizam dos transportes públicos coletivos. Sendo assim, vemos tais regulamentações como populista e irresponsável.
Não é regulamentando profissões, existentes há décadas que aumentaremos os índices de emprego formal. Daremos sim, um salto positivo nesse setor, investindo em novas tecnologias. Fortaleceremos nossa economia, abrindo novos postos de empregos. A regulamentação é apenas uma maneira de reconhecer no povo brasileiro, uma força incessante de buscar o seu melhor. É simplesmente uma necessidade de valorizar nossa luta diária pelo engrandecimento pessoal e a formação de um caráter determinado, que é a marca do brasileiro.

Fabio Alves Valentim, Filósofo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Quincas Borba: Uma visão acerca do Homem em seu Estado Aparente

O Homem em seu Estado Aparente, como veremos agora através de um personagem de Machado de Assis. Na obra (Quincas Borba), o escritor Machado de Assis demonstra de forma bem nítida, com o personagens Rubião, o que ele já fez com outros de seus personagens, o esforço que o homem faz na criação desse "Estado Aparente”. Rubião é um professor interiorano, não tem muitos amigos, mas um desses, o estranho Quincas Borba ao morrer o deixa como herdeiro Universal, todavia Rubião terá que cumprir com a responsabilidade de cuidar de seu cão que também se chama Quincas Borba. Rubião não sente muito afeto pelo cão, mas como teme perder a herança se sente obrigado a cuidar dele. Outro fato que o leva a tratar o cão com carinho é Rubião imaginar que a alma do defunto amigo Quincas Borba habite no corpo do cão. O homem está a todo o momento preocupado em agradar as outras pessoas, ele se acha eternamente vigiado, faz de tudo para passar uma boa impressão. Essa eterna sensação de ser vigiado quer seja por uma força superior (Deus), ou até mesmo os demais partícipes da sociedade fazem com que o homem se esconda em uma verdadeira muralha que o deixe mais seguro frente aos outros. O homem não pode de modo algum se permitir ser surpreendido sem máscara, em seu estado cru, natural. Rubião querendo ser aceito assume padrões que diferem do seu real estado de ser. Rubião se torna um homem rico, que mora na Corte, faz novos amigos, vai ao Teatro, a festas, veste belas roupas, no entanto, isso não significa que todas essas mudanças aparentes tenham mudado seu “Estado de Ser Interior”, essas modificações superficiais apenas camuflam seu modo de ser provinciano. Rubião a cada momento estar em negociação para obter um melhor posicionamento na sociedade. De professor interiorano ele vai galgando cada vez mais um lugar de respeito e honra. O homem no seu projeto pessoal de auto-afirmação sente a necessidade de ser reconhecido pelos demais seres da espécie. Do mesmo modo que ocorre entre os outros animais, onde a fêmea se enfeita na conquista do macho e busca nele características como força, poder de liderança frente aos demais e o macho por sua vez busca aquela que possua melhor aparência, que se destaque em relação às outras fêmeas, entre os homens também há esse jogo de conquista. No entanto, não ocorre somente nas relações de cunho sexual, mas entre pai e filhos, entre amigos como também nas demais relações inter-pessoais. É através do outro que o homem se vê. E esse Homem Aparente se sente pressionado pelo outro a estar cada vez mais buscando uma melhor maneira de ser visto em sociedade. Mas qual será a espessura da lâmina que divide a sanidade da loucura? Onde será o ponto limitador de esforços na busca de uma identidade aparente, antes que o homem adentre os jardins obscuros e os terrenos pantaneiros da sandice certeza esses limites não foram observados pelo Rubião que se perdeu no seu desejo de auto-afirmação de grandeza, o homem está a todo o momento desafiando esses limites. Na sua tentativa de criar uma melhor imagem perante os outros, estes acabam acreditando naquilo que fantasia, dando seus desejos como se fosse verdade. Rubião sem perceber a cobra trilhando o mesmo caminho do seu finado amigo Quincas Borba se colocando cada vez mais em um mundo imaginário. Enquanto o Quincas Borba em sua loucura se achava um grande filósofo fundador de uma nova ideologia, o Rubião por sua vez se acha o próprio Napoleão III. A construção dessa identidade aparente pode ser um risco pra saúde mental do homem. Se esta não for bem estruturada é um posso certo para um distúrbio mental de grandes proporções.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Por que Vidraça de Sofia?

Pelo que entendemos está se concretizando todos os objetivos de nosso blog. A idéia central quando desenvolvemos este ciber espaço era justamente se colocar em posição de Vidraça, nosso conhecimento, ou nossa busca pelo conhecimento como é mais apropriado, e filosoficamente dito, como uma busca incessante por está próximo do saber, do conhecer e por isso ser um amante do saber, um filosofo.
É assim que estamos, a postos e esperando as pedradas. Que estas venham em forma de criticas, de indagações filosoficas, de aconselhamentos morais ou éticos. É assim que pensamos a filosofia, como um despertar intenso de questionamentos necessários para o bom desenvolvimentos do pensamento em busca de respostas e soluções que definitivamente desembocaram em novas interrogações!

Uma possibilidade de existência do homem em seu estado natural

Buscaremos através desta pesquisa mostra o que acreditamos ser uma possibilidade de existência do homem em seu estado natural. Como seria a figura deste homem natural? Eu vejo como um exemplo bem aproximado deste Homem Natural o Diógenes, que era conhecido na Grécia antiga como o Cínico e que era contemporâneo de Alexandre, O Grande. Este seria um bom exemplo levando-se em conta o seu modo de vida sem se preocupar com o que os outros poderiam pensar ao seu respeito. “Um episódio tornado famoso e, ademais, marco simbólico, define o espírito do cinismo talvez melhor que qualquer outro: Certa vez, Diógenes estava tomando sol quando Alexandre lhe questionou sobre o que ele (Alexandre) poderia fazer por Diógenes ao que foi logo respondido: Saia da frente do meu sol.” (Reale e Antíseri, 1990, p.233). Nada que o Grande Alexandre pudesse lhe dar naquele momento seria mais importante para Diógenes que o sol, que estava ali à vista de todos. O Homem Natural como nos parece, não se preocupa com ornamentações que o farão ser aceito em sociedade. Ele deve ser Apolide, porque a Polis é expugnável e não o refúgio do sábio. ”( Reale e Antíseri, 1990, p.234), mesmo por que ele não está nem um pouco preocupado com a maneira como os outros o verão.
Diógenes também era conhecido por mesmo durante o dia sair às ruas com uma lanterna e indagando a todos que encontrava pela frente a respeito do paradeiro do verdadeiro Homem. “Onde esta o verdadeiro Homem?”, “Onde ele se encontra?” Dizia Diógenes. (Reale e Antíseri, 1990, p.231) Mas onde está esse Homem Natural? O homem Natural só poderá ser encontrado na medida em que o homem passe a viver de acordo com a sua mais autêntica essência; “Busco o homem que, para além de toda a sua exterioridade, de todas as convenções e do próprio capricho da sorte e da fortuna, sabe reencontrar sua genuína natureza, sabe viver conforme essa natureza e, assim, sabe ser feliz”. (Reale e Antíseri, 1990, p.231). Pensamos aqui um homem que possa viver apenas de acordo com a sua verdadeira e, se assim podemos falar natural forma de ser.

As desventuras de Chicó e João Grilo

I
Desde pequeno o menino
João Grilo se ocupava
Fazendo de tudo um pouco
Em qualquer coisa trabalhava
Conseguindo algum trocado
Ia vivendo o coitado
A fome ele enganava

II
Não tinha nem pai nem mãe
Era sozinho na vida
Um dia aqui, outro ali
Buscava a melhor saída
Era mais um retirante
Fugindo sempre diante
De terras seca e sofrida

III
Mas pouco a pouco o menino
Ia se adaptando
Para viver melhor
Estórias ia inventando
Usando de esperteza
Já tinha com mais certeza
Um lugar pra ir morando

IV
Conheceu então Chicó
Tornando-se seu amigo
Este vinha de viagem
Buscava ali um abrigo
Um lugar pra trabalhar
Pra poder se sustentar
Deixando de ser mendigo

V
Um emprego encontraram
Com o dono da padaria
Um salário miserável
Para quase nada daria
É certo que ao menos pão
Numa ou outra ocasião
Mesmo duro ele teria




VI
Chicó era um amarelo
Safado e namorador
E se encantou um certo dia
Com a mulher do seu senhor
Êta que mulher chifreira
Vestia-se como freira
Mas tinha fogo abrasador

VII
João Grilo e chicó viviam
Com o diabo gostava
Querendo ser os espertos
Todo o povo enganava
Não respeitavam ninguém
O padre e o bispo também
Esses dois sempre enrolava

VIII
Um dia se deram bem
Usando de ousadia
Enganaram Vicentão
Que todo o povo temia
O valentão da cidade
Que mesmo com pouca idade
Arrotava valentia

IX
O caso foi o seguinte
Preste muita atenção
Com bastante sutileza
E usando de educação
Com um plano engenhoso
Sendo muito cuidadoso
Enganaram o valentão

X
Para conquista Rosinha
Moça bonita da cidade
Filha de Antonio Gomes
Coronel cheio de maldade
Organizaram um trielo
Chicó quem ligava o elo
O valentão e autoridade

XI
O cabo noventa e um
Cheio de boa intenção
Para conquistar a moça
Mandou por João um cordão
Vicentão mandou pulseira
Homens de formas grosseiras
E com amor no coração

XII
João Grilo com artimanhas
Organizou num instante
Em frente a catedral
Aquele encontro marcante
Um froxo e dois valentes
Num duelo diferente
Com Rosinha adiante

XIII
Na hora marcada então
Em frente a catedral
Toda gente da cidade
Esperava afinal
O desfecho da estória
Quem então teria a gloria
De valentão do local

XIV
Chicó se posicionou
No meio dos valentão
E começou a contagem
Sem ter revolver na mão
Os valentões se olharam
Depois se acovardaram
Na hora da decisão

XV
Correram sem olhar pra trás
Cada um foi para um lado
Chicó foi o vencedor
Pelo povo aclamado
Espalhou-se então a fama
De ter jogado na lama
O nome dos dois coitados

XVI
Daí em diante então
Toda a cidade falava
Da coragem de Chicó
Que os valentões expulsava
E seu amigo João
Que lhe daria ocasião
Pra vencer quem o humilhava


XVII
A pobre menina rica
Escolher não poderia
O seu amado Chicó
Que seu marido seria
Pois seu pai coronel
Ganancioso e cruel
Já mais o aceitaria

XVIII
O João Grilo fez um plano
Com toda boa intenção
Pra unir a pobre rica
E o rico pobretão
Fez de Chicó fazendeiro
E este sem ter dinheiro
Foi em busca da mansão

XIX
Chegaram então na mansão
Do coronel fazendeiro
Para acertar o casório
De Rosinha e do herdeiro
Chicó o falso ricão
Doutor sem anel na mão
Bolso liso sem dinheiro

XX
O coronel interesseiro
Já aceitava o casamento
Foi quando chegou o padre
Começando o sofrimento
Pois conhecia Chicó
Que era pobre de dar dó
Um sujeito sem remendo

XXI
João Grilo com esperteza
Foi falando da herança
Que Chicó tinha ganhado
De sua tia Esperança
Uma mulher que viajava
Que viúva a muito estava
Do dono do Banco Aliança

XXII
João Grilo também falou
Da igreja reformada
Pra o grande casamento
Teria de ser restaurada
O padre já foi gostando
Um sorriso escancarando
A estória era mudada

XXIII
Porem, pensou o coroné
Temendo enganado
O Chicó sendo o noivo
Cuidara do seu noivado
Organize o casamento
Pague do bolso o evento
Que eu aceito de bom grado

XXIV
João Grilo e Chicó pediram
O dinheiro emprestado
Pois sabiam que não tinham
Como fazer o combinado
Pensando em organizar
Outro plano para escapar
Pois não tinha um cruzado

XXV
O coronel já cismado
Resolveu lhes emprestar
Mas deixou uma condição
Para o empréstimo aceitar
Uma lasca de couro tirarei
Na data que eu marcarei
Se o meu dinheiro não pagar

XXVI
Chegava então o dia
Da grande ocasião
Do casamento esperado
Um plano tinha João
Para os noivos fugir
Se ele não conseguir
O dinheiro da obrigação

XXVII
Mas a cidade então
Foi neste dia invadida
Por lampião e seu bando
Atrapalhando a partida
O bando de lampião
Pegou Chicó e João
Era o fim de sua vida


XXVIII
João Grilo como sempre
Um sujeito inteligente
Falou de uma gaita mágica
Que fazia toda gente
Que morreu ressuscitar
Depois de se encontrar
Com o Deus onipotente

XXIX
Para provar o seu dito
Furou Chicó falsamente
Este caiu sangrando
Se mostrando convincente
Graças a uma bexiga
Que tinha junto a barriga
Pro plano que tinha em mente

XXX
Lampião acreditou
Que a gaita era sagrada
E pediu a um cangaceiro
Que lhe desce uma facada
Pois ele achava que iria
Pro céu ver santa Luzia
E ter a vista restaurada

XXXI
Quando o cangaceiro viu
Que a gaita não funcionava
Mesmo ele tendo tocado
E Lampião não voltava
Vendo a volante chegando
Foi logo atirando
Pra vê quem acertava

XXXII
Acertou logo João Grilo
Que caiu de vez no chão
Quando Chicó viu aquilo
Deu uma de valentão
Atirou no cangaceiro
Com um balaço certeiro
Da arma de Lampião

XXXIII
Todos então chega enfim
Para o juízo final
Com excesso de Chicó
Que se livrou do mal
Chega então no lugar
O cão tinhoso que estar
Com sua fúria infernal

XXXIV
Êta que a freguesia
Hoje é das melhor
O inferno fica cheio
Pois aqui sou o maior
Se o outro ta sumido
Esse povo atrevido
Vai ter o destino pior

XXXV
Salva-me ó Deus do céu
Da terra és criador
Livrai-me deste demônio
Infiel contestador
Que busca arrebanhar
Pro inferno encaminhar
Esse seu adorador

XXXVI
Agora virou poeta
O amarelo encardido
Buscando ajuda do homem
Dando uma de sabido
Se passando de bondoso
Eta que bicho tinhoso
Mas se vê que ta perdido

XXXVII
Perdido esta você
Que busca em vão me levar
Pra aquele lugar sombrio
Que você devia estar
Já deixe de assombração
Siga sua direção
O inferno é seu lugar

XXXVIII
Cale a boca seu João Grilo
Que eu já to sem paciência
Fica ai me provocando
Com a sua impertinência
Acabou o converser
Vamos agora descer
Para a minha residência


XXXIX
Nem morto eu desço lá
Com você anjo caído
Pro céu Deus vai me levar
Num to sendo convencido
Só to sendo confiante
Num Deus que segue adiante
Salvando o homem perdido

XL
Morto você já esta
Não se faça de lesado
Nem perturbe o grande Deus
Que sempre tá ocupado
Vamos comigo agora
Deixe de tanta demora
Seu destino está traçado

XLI
Pare com isso agora
Deixe de me perturbar
Já disse que não vou
Nem se tu me arrastar
Pro inferno vai-te retro
Eu não sou homem correto
Mas no céu eu vou morar

XLII
Acabou a discussão
Silencio no tribunal
Boto ordem no recinto
Pois eu sou o maioral
Preste muita atenção
Ou eu tomo a decisão
Ou já vira bacanal

XLII
Com licença meu Senhor
Deixe agora eu lhe falar
Conheço todo esse povo
Posso te apresentar
Isso tudo é boa gente
Morrendo tudo inocente
Vem parar nesse lugar

XLIII
Seu João Grilo eu já sei
Sua boa intenção
Mas se esquece que eu sei
Quem aqui é bom ou não
Pois deixe de argumentar
Fique aí no seu lugar
Que eu tomo a decisão

XLIV
Senhor tome cuidado
Que esse amarelo é tinhoso
Não caia na sua conversa
Que João Grilo é engenhoso
Preste muita a atenção
Nesta sua decisão
Ou ele vai te botar no bolso

XLV
Eu sou o Deus poderoso
Dono do céu e mar
Da terra e das estrelas
Também do fogo e do ar
Não são bons e nem ruim
Ficaram melhor assim
O purgatório é o seu lugar

XLVI
Já que o amarelo conseguiu
Ser hábil e sorrateiro
Livrando assim do inferno
Todos os seus parceiros
Vou apelar somente
Pra o Senhor não ser clemente
Com João e os cangaceiros

XLVII
João Grilo eu vou dizer
Agora ta complicado
O purgatório tá cheio
Não cabe ninguém tá lotado
Seja mais eficiente
Com argumento convincente
Se não será derrotado

XLVIII
Mas tudo tem solução
Se o Senhor permitir
Peço ajuda dos santos
Pra poder me assistir
Compadecida e Luzia
Livra-me dessa agonia
Pra poder me redimir


XLIX
Senhor seja bondoso
Com esses pobres cangaceiros
Que não tiveram escolha
Desde cedo sem dinheiro
Trabalhando desde a infância
Tratados com ignorância
Pelos ricos fazendeiros

L
Não tinham o que comer
Nem tampouco educação
Sofrendo feito animais
Por este imenso sertão
Foram sozinhos na vida
Vivendo sua triste lida
Dê-lhes agora o perdão

LI
Ao menos este amarelo
João Grilo eu vou levar
O inferno esta vazio
Garanto ele vai gostar
Esta tudo decidido
Esse amarelo metido
Vai no inferno morar

LII
Dê outra chance Senhor
Livre ele do sofrimento
Ajudou todo esse povo
Na hora do seu lamento
Deixe-o pra terra voltar
Ele se arrependera
E vai pro céu noutro momento

LIII
Foi dessa forma esperta
Que se livrou o João
Do inferno e do diabo
Com a sua opressão
Voltando pra terra contente
Alegre e sorridente
Pra Chicó o seu irmão

LIV
E foram então falar
Com o bravo coronel
Chicó, Rosinha e João
O seu amigo fiel
Pra falar do casamento
E pagar o juramento
Que reza o contrato cruel

LV
A linda e esperta Rosinha
Usando muita destreza
Leu o contrato na mão
Linha a linha com certeza
Lasca de couro pode tirar
Mas pro sangue não derramar
Use de toda a firmeza

LVI
O coronel percebendo
Que havia sido enganado
Expulsou a sua filha
Com seu marido safado
Foram embora com João
Seguindo sua direção
O coronel foi abandonado

LVII
Essa é mais uma estória
Das muitas que o povo conta
De João Grilo e Chicó
E das coisas que eles apronta
De sua grande esperteza
Vivendo de incerteza
No sertão de ponta-a-ponta.

Fabio Alves Valentim ,23/11/05

Escrevi esse cordel em 2005, hoje sou filosofo graduado pela UERN, e estou me especializando em Ética e Filosofia Política, continuo escrevendo poesia e contos que vez por outra publico no recanto das letras.


P.S. DESCULPE SE A NUMERAÇÃO ROMANA ESTIVE ERRADA É QUE FAZ MUITOS ANOS QUE NÃO ESTUDO ISSO.